segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Passado, Presente, Futuro

Eu fui. Mas o que fui já não me lembra:
Mil camadas de pó disfarçam, véus,
Estes quarenta rostos desiguais.
Tão marcados de tempo e mascaréus.

Eu sou. Mas o que sou tão pouco é:
Rã fugida do charco, que saltou,
E no salto que deu, quanto podia
O ar dum outro mundo a rebentou.

Falta ver, se é que falta, o que serei:
Um rosto recomposto antes do fim,
Um canto de batráquio, mesmo rouco
Uma vida que corra assim-assim.

Poema de José Saramago, in "Os Poemas Possíveis"

Sem comentários:

Enviar um comentário